São os bombardeamentos dos hospitais, o torpedeamento dos navios-hospitais? São os bombardeamentos de populações civis indefesas, de creches e asilos de crianças e velhos? São as destruições de edifícios culturais, de templos e museus? São os actos que, no depoimento insuspeito do Osservatore Romano, se estão a praticar na Itália libertada, e ofendem a "decência e a humanidade"? São os massacres de Katyn? Crimes de guerra.
Se se pretende definir os crimes de guerra, institua-se um tribunal próprio, formado exclusivamente por estados neutrais, sob a presidência efectiva do Pontifíce.
Agora, arvorarem-se as Democracias beligerantes em em tribunal para só verem crimes de guerra no campo adverso , e por conta duma vitória que, por hora, está apenas no campo dos seus desejos, e fazerem pressão sobre os Estados neutrais, levando-os a declarações vergonhosas, incompatíveis com a honra nacional, é uma indignidade contra que, ainda que isolado, levanto o meu protesto.
Se a guerra é um crime, todos os actos de guerra são crimes de guerra, e todos os que entrarem nela são criminosos, independentemente do campo a que pertençam.
Se a guerra é a fatalidade lógica da vida dos povos, os actos que a guerra condiciona e as necessidades de guerra impõem não são crimes. Mas, se um dos contendores os considera tais, isto é questão a derimir entre os beligerantes o tratado de Paz, mas nunca pode envolver a posição dos neutros, o seu critério, a sua independência e a sua honra. Deixem aos neutros, pelo menos, a liberdade de serem honrados!
Alfredo Pimenta
Os Criminosos de Guerra e os Neutros
(Publicado no número 107 da revista "A Esfera" em 1945)